sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Em resposta ao anônimo!

Desde há muitos anos, nós, cidadãos catarinenses providos de um mínimo de humanidade e bom senso lutamos pela abolição da prática da farra do boi no estado de Santa Catarina como uma forma de expressar uma indignação maior, que é pela abolição de todas as práticas, individuais ou institucionalizadas, de todo e qualquer ato de abuso e maus-tratos aos animais, e esta sim, para nós, protetores e ativistas ambientais, é uma luta diária.

O crime da farra do boi, por si só cruel, é vergonhoso para o estado de Santa Catarina, e repulsivo sob todos os pontos de vista, social, moral e legal, e já conseguiria sozinho nos envergonhar. Já dizia Mark Twain: O homem é o único animal que cora, ou melhor, que tem motivo para corar.

Entendemos que uma prática igualmente cruel é a puxada de cavalos.

Trata-se de uma prática arbitrária, desmedida e cínica onde nós “humanos”, usamos os cavalos para nos divertir às custas de seu sofrimento e em nome da tradição. Consiste em uma corrida estúpida, entre dois cavalos que são obrigados a puxar toneladas de peso, rompendo muitas vezes as articulações, caindo com dor ao chão, sendo estimulado por chutes e pedradas.

Os animais não são nossos, nem para usa-los, muito menos para nos divertir às suas custas. Isso para o animal não é diversão, é dolorido e muito sofrido. Quando um cavalo é utilizado para o trato agrícola ou cachorros como pastoreiros, o fazem de bom grado, pois gostam de se sentirem úteis. E mesmo essas práticas devem ser feitas de forma a observar as condições de cada animal.

Realmente fazer a manifestação no evento foi um ato que precisou de coragem, confessamos. Mas se não fosse essa nossa coragem, não teríamos conseguido atrair a discussão sobre esse ato, que para nós é estúpido.

Essa situação vem corroborar uma conhecida tese de psiquiatras forenses de que quem pratica tortura e crueldade contra animais, facilmente a pratica contra pessoas, pois é desprovido de qualquer sentimento de humanidade e compaixão pelo próximo. O valor em questão, que é a vida e a dignidade de um ser vivo é absoluto e diante dessa essência, o crime é o mesmo. Não há mais trigo, vira tudo joio.

As manifestantes foram tratadas com a mesma humilhação, o mesmo desrespeito, a mesma violência. A diferença é que elas podem se defender, diferente dos animais que não podem e não sabem como se defender. E não lhes resta outra alternativa a não ser se submeter, se curvar, se escravizar, para que nós, os humanos, seres “racionais” o utilizemos deles para nossa diversão.

Essa lógica perversa é a mesma da farra do boi, dos rodeios, das touradas (que inclusive estão sendo abolidas na espanha) das rinhas de galo, circos com animais.

Portanto, o que está em discussão não é a prática em si, não é o clássico conflito entre direitos dos animais e direitos culturais. Não, o que se debate aqui é uma cultura só: A cultura da violência gratuita, como se a legitimidade social conferida à violência contra os animais, justificasse moralmente todos os seus desdobramentos igualmente violentos.

E é bom lembrar que justamente no momento em que Pomerode coloca a puxada de cavalos em seu calendário oficial, não podemos deixar de lembrar que se a grandeza de uma nação é julgada pela forma como trata seus animais (Gandhi) é importante se questionar que tipo de precedentes estamos criando em nome de uma tradição, de uma cultura, que até onde vimos, só propaga violência e sofrimento.

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