quinta-feira, 28 de julho de 2011

A história das vacas



No dia 6/jul recebemos denúncia anônima de gado morrendo de fome, sede e frio. Logo ligamos para a polícia militar e orientação foi a de que procurássemos a Vigilância Sanitária. Como estava perto das 11h o veterinário da CIDASC não foi encontrado. Fomos ao local imediatamente e constatamos a crueldade em que se encontravam 6 cabeças de gado. O proprietário arrendou 2 pastos além do seu, onde mantinha 14 cabeças de gado. Apavoradas com a visão, tornamos a ligar para a Polícia Militar, quando foi enviada uma viatura e um policial que adentrou no pasto e fotografou o estado dos animais. Pedimos água para a vizinha para dar aos animais mas nenhum estava em condições de beber por estarem muito fracas, sem nem condições de ruminar. Tentamos também alimentá-los, sem sucesso. 
Telefonamos e conversamos com a vice-prefeita, Gladys Sievert, para que ela tomasse conhecimento e oferecesse alguma ajuda. Ela se prontificou em procurar o veterinário da prefeitura pois era horário de almoço.
Fomos procurar ração em agropecuárias mas todos estavam em horário de almoço.   Voltamos ao local às 13:40, e esperamos a chegada do veterinário que chegou às 14h, veio em companhia do secretário do Meio Ambiente. Eles tiraram fotos e preencheram papeis. Nenhum exame foi feito nos animais, apenas visual. Em conversa com o secretário ele foi enfático em dizer que o gado precisava de alimento especial para não morrer, que a cana iria prejudicar a digestão. Tomamos a decisão de buscar a alimentação correta e só conseguimos com um criador. Voltamos para alimentar o gado e novamente ligamos para a Sra Gladys, pedindo para que os animais fossem examinados e medicados pelo veterinário, as 15:30h. O veterinário consultou duas vacas as 18h, segundo testemunhas.
Na manhã seguinte voltamos ao local e os animais estavam em precária situação quando soubemos que a noite uma das vacas atravessou a rua e foi atropelada. O proprietário alegava que ela não havia sofrido fratura, mas era visível o ferimento (foto), e que ele deveria pagar o prejuízo do carro e que custaria R$2.570,00. Além disso, o proprietário alega que chamou o veterinário da prefeitura e este não tinha vindo até aquele momento. A vaca estava deitada no pasto ao relento, num dia gelado e ferida, além da fome/sede. Na noite anterior o proprietário recebeu proposta de compra de um novilho mas não aceitou o preço oferecido de R$250,00, queria R$300,00. Para aliviar pelo menos um animal completamos o valor de R$50,00 e a venda aconteceu, não concordando com o procedimento, já que como se tratava de maus tratos evidentes o correto seria a imediata remoção dos animais para tentar salvá-los. Essa ação foi dificultada pela inércia dos agentes públicos que nada fizeram além preencher papeis.
Cortamos trato (brotos de capim) e alimentamos as 6 vacas que estavam naquele pasto e no pasto próximo e retornamos ao nosso local de trabalho, já que largamos tudo para atender a essa denúncia (10h). O proprietário prometeu que 6 cabeças de gado, menos debilitadas, seriam vendidas e retiradas até as 16h de sexta-feira.   
Na sexta-feira, conversamos com o prefeito municipal para deixá-lo a par dos acontecimentos e pedindo que o laudo da CIDASC fosse entregue ao Ministério Público e que medicassem os animais.
Perto das 19h, depois do trabalho fomos novamente ao local e constatamos que ele realmente havia vendido as 6 cabeças de gado e as que não conseguiam se manter em pé permaneciam no local com a promessa do proprietário que as trataria e ficaria com elas para posterior venda.
Também fomos informados que o veterinário da prefeitura medicou as 3 vacas mais debilitadas, confiamos na informação certos de que as vacas se recuperariam.
No sábado não fomos ao local.
No domingo, as 7:30h, uma voluntária passou por lá e constatou que não estavam sendo medicadas desde sexta-feira e com hipotermia.
Nossa ação foi entrar em contato com um veterinário amigo de Blumenau quando prontamente se ofereceu para atender. Em 30 minutos o Dr Anselmo estava no local. Após o exame, constatou a baixa temperatura dos animais, medicou com soro e cálcio, e recomendou levantar os animais(foto) para movimentá-los e aquecê-los. Também indicou a ingestão de café forte e morno com soro caseiro morno, o que foi feito por voluntárias e administrado pelo proprietário já que precisava aprender e repetir as doses 3 vezes ao dia.
O proprietário foi orientado também a colocar serragem no chão do rancho, pois por não se locomoverem, evacuavam e urinavam no local onde estavam deitados. Uma das voluntárias conseguiu uma serraria que abrisse para que se buscasse a serragem, mas infelizmente o proprietário não se mobilizou a buscar.
Duas vacas foram condenadas a eutanásia, pelo veterinário, e em questão de minutos chega ao local o Sr. Ivo Just com a intenção de levar as vacas mortas, com o intuito de cozinhar para alimentar porcos de sua propriedade. Isso nos assustou por ser ilegal e uma prática comum na localidade.
O veterinário contestou e explicou aos dois (proprietário e comprador) que essa prática é proibida e que as vacas deveriam ser enterradas. O proprietário não aceitou a eutanásia e garantiu que ia curá-las.
Na segunda-feira voltamos ao local de manhã, e as vacas não demonstravam nenhuma melhora, somente se notava a piora da situação.
Às 16h nos dirigimos à CIDASC Blumenau para denunciar que o atendimento do veterinário de Pomerode não foi correto, pois não deu acompanhamento aos animais doentes e sobre a prática de utilizar animais mortos na confecção de comida para porcos.
Voltamos ao local, o proprietário informou que estava tudo sob controle(!). Resolvemos então ir ao Fórum de Pomerode buscar ajuda do Ministério Público. Devido ao adiantado horário (perto das 19h), a secretária intercedeu para passar a denúncia a Promotora. Depois de alguns minutos a resposta da promotora foi que no dia seguinte ela buscaria órgãos competentes.
Na parte da manhã um voluntário foi ao local e constatou que duas vacas morreram durante a noite. Ligamos novamente para a Cidasc Blumenau para colocá-los a par da morte das duas vacas, reiterando o enterro das vacas (para que não fossem doadas/vendidas). Logo depois o Sr. Augusto da Cidasc Pomerode telefonou para a Associação informando que iria conversar com a Promotora para ter a solução do caso.
Como havia ainda uma vaca viva mas, precisando de cuidados decidimos retirá-la. O proprietário não aceitou, apenas sob pagamento. Ele exigiu R$200,00 mais o valor da ração que ele comprou no dia 07/jul (R$70,00) e nunca administrou.
No caminho recebemos a ligação da promotoria, através de secretária, que um acordo havia sido firmado entre promotor e Cidasc, autorizando-nos a retirar a vaca.
Fomos buscar a vaca com uma camionete de voluntário e levamos para a sua casa. A vaca estava muito debilitada e foi muito difícil seu resgate e sua recuperação é complicada.
Conclusão: novamente nos vemos frente a um problema grave e sem apoio REAL dos órgãos competentes. Agimos por conta própria, com parcos recursos financeiros e pessoais, quando deveríamos ter respaldo e respeito. E não leviandades e pouco caso.
- como a AMA Bichos agiria: em se constatando o maltrato evidente o veterinário tem por obrigação de ofício relatar imediatamente a promotoria (que tem por obrigação cuidar do meio ambiente) evidenciando a emergência.
Poderíamos ter salvo todas as vacas, se fossem tiradas de seu proprietário imediatamente, já que perdeu o direito a tutela por negligenciar seus animais no básico que todos precisamos que é alimentação.
Fica nosso sentimento de indignação.








3 comentários:

Der sauerkrautt disse...

Parabéns!
Mesmo que o resultado tenha sido parcial, valeu a luta!
Deus tá vendo!

Crista disse...

Sugestão:
O ex-dono das vacas deveria estar pastando agora..."comendo"o que elas comiam...NADA...sofrendo o que elas sofreram...mil vezes mais!!!!

Art by Lu disse...

Que via-sacra!!!
Olha, agora que estou morando em zona rural estou percebendo como é difícil explicar certas coisas às pessoas... Quando há uma "cultura" de que certos tipos de animais "aguentam" tudo, até geada, não há nada que consiga contradizer! É uma luta, viu...
Aqui o povo nos critica muito pela maneira que tratamos as galinhas, o Eponio, enfim, todos os animais. Mas não ligamos, quem sabe algum assimila alguma coisa boa, né?

Muita força pra vcs!!!