segunda-feira, 12 de julho de 2010

Pronunciamento de Voluntária na ALESC

Exmo. Sr.Presidente, Dep. Ana Paula, Srs. Deputados, demais autoridades, protetores e convidados.

Este é um momento muito especial e uma grande honra para mim ocupar esta tribuna e poder falar um pouco de nossa luta em prol dos animais.

Mas afinal, o que é um voluntário? Quem é esta pessoa que decide dedicar sua vida a uma causa ingrata que não traz retorno financeiro nem projeção social, pelo contrário, acaba lesando o próprio bolso e muitas vezes até torna o benfeitor motivo de chacota e crítica?

Quem são estas pessoas que acordam de manhã sabendo que terão que encontrar abrigo para animais abandonados, ninhadas separadas das mães e jogadas na beira da estrada, novas denúncias de maus-tratos e enfrentar a impotência diante da Justiça?

O ano para nós se divide de forma diferente do resto da população. No verão, quando a maioria descansa nas praias, enfrentamos o abandono de animais domésticos largados nas ruas, desesperados à procura daqueles que os abandonaram, mas que para eles continuam sendo seus heróis. Para animais não existe abandono, eles criam elos permanentes e jamais largariam seus donos.

Aí vem o Carnaval e a Quaresma a nos lembrar da aproximação daqueles finais de semana com a farra do boi acontecendo em nosso litoral. Mesmo que tenham diminuído as manifestações graças a um bom trabalho junto a diversas promotorias públicas, mas a cada caso nos sentimos terrivelmente impotentes diante da brutalidade desnecessária praticada contra animais indefesos. Neste ano, a foto de um boi caído na praia com a pata quebrada após ter sido torturado e seu olhar distante de dor e incompreensão, insiste em não se apagar de minha mente.

O inverno abarrota nossas caixas de emails de denúncias de animais domésticos sofrendo por terem tido o azar de cair nas mãos de donos irresponsáveis que não entendem que animais também precisam de um simples cobertor.

Como se não bastasse, em nove municípios do interior de nossa bela Santa Catarina, inventou-se, sob o nome de “tradição” ou até de “evento cultural”, mais uma forma de abusar animais – a puxada. Uma parelha de cavalos atrelada a uma carreta sem rodas, é obrigada a arrastar uma carga de aproximadamente três toneladas de sacos de areia, isto após uma exaustiva semana de trabalho na lavoura.

Tudo para satisfazer o ego de seus donos que procuram ser agraciados com medalhas e troféus, estes doados pelas prefeituras locais. Assim como a farra do boi, a puxada é movida à bebida alcoólica. Dia 18 de abril passado nos manifestamos contra uma puxada no município vizinho de Pomerode. Resultado? Agressão e xingamento contra nós – os manifestantes – que segurávamos faixas de protesto em via pública defronte ao local da puxada.

Ovos podres e pedras foram lançados em nossa direção, e tivemos as faixas de protesto arrancadas de nossas mãos e rasgadas, sendo as hastes com pregos usadas para nos bater, tendo como alvo principal as cabeças. Houve derramamento de sangue, nove pessoas feridas, inclusive um jornalista, imparcial, que apenas fazia cobertura do evento.

As entidades protetoras tem direito garantido a representar os animais e lutar que as leis de proteção sejam cumpridas. Este é o nosso papel e fazíamos o manifesto dentro do rigor da lei. Não pudemos na ocasião contar com a ajuda de aparato policial, mesmo tendo sido solicitado antecipadamente através de ofício protocolado e reforçado por três telefonemas no dia do evento.

O que mais nos choca é a discriminação pela qual estão passando as voluntárias da AMA Bichos de Pomerode, fruto da distorção tendenciosa dos fatos veiculados na media local.

Mas nem tudo em nossas vidas é sofrimento. Também recebemos notícias boas, uma ajuda inesperada, um animal adotado, um simples elogio e até a chance de podermos hoje, orgulhosamente nos manifestar nesta casa diante daqueles que nos representam e nos acolheram de forma tão calorosa. Que o reconhecimento se extenda aos animais, que possamos nos unir para ajudar esta parcela de nossa população que deveria ter seus direitos garantidos pela lei, direitos estes que sozinhos não podem reivindicar.

O olhar de gratidão de um animal entra como música em nosso coração, pois diante de nossos olhos animais, crianças e idosos se confundem. Podemos ser apenas uma simples pessoa, mas para eles somos o mundo. Ajudando-os respondemos a um chamado de nosso coração, do qual não podemos fugir.

Somos movidos a força de vontade, mas isto só não basta. Precisamos de parceria com o setor público, reconhecimento de nossas ações e principalmente uma política pública de controle populacional de animais domésticos.

Se não somos capazes de garantir o direto de viverem dignamente, vamos dar a eles ao menos o direito de não nascerem.

Um de nossos requisitos seria que as prefeituras nos chamassem para discutirmos em conjunto ações, antes de expedirem alvarás para eventos que envolvam animais. Um laudo médico veterinário expedido por um profissional remunerado pelos próprios patrocinadores do evento, pode não estar de acordo com as normas do bem-estar animal.

Diante do exposto e de tantos outros projetos com os quais sonhamos um dia poder realizar, falo em nome de todas as entidades, pedindo a V.SA.S que valorizem nosso trabalho, entendam nossas frustrações e nos ajudem a tentar melhorar a condição de nossos irmãos menores.

“A indiferença pela vida e sofrimento dos animais é incompatível com a dignidade conferida aos humanos”

Obrigada, Bárbara Leprecht.


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