segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sofrimento subjetivo

No dia 27 de março, assisti de perto à puxada de cavalos em Pomerode. O intuito de conhecer o evento foi meramente a fim de esclarecer pontos polêmicos entre os simpatizantes da causa e os que se manifestam contrariamente. Relato agora o que vi. Os animais foram transportados mediante confinamento em caminhões fechados tipo baú, cuja temperatura do dia era de 33°C. Pela manhã, os cavalos foram avaliados por dois técnicos da Cidasc e um médico veterinário remunerado pelos promotores do evento, que se ausentaram assim que a avaliação encerrou. Por volta das 13h, iniciou-se o espetáculo.

Os animais foram expostos a um grupo de 150 pessoas que se posicionaram em ambos os lados. Os cavalos foram obrigados a arrastar um carrinho sem rodas, carregado com 2.500 kg, por 24 metros em solo enlameado. Quando paravam, eram açoitados e golpes violentos com as mãos lhes eram desferidos. O solo não se mostrava firme para o apoio das patas, por isso constantemente os animais dobravam as mesmas, num esforço ilimitado para poder manter o equilíbrio. As articulações de alguns animais pareciam mais volumosas e um saiu claudicando.

Durante a prova, não foi constatado nenhum profissional que pudesse socorrer os animais em caso de acidente, nem ao final os animais foram avaliados quanto aos aspectos físicos e emocionais. Os principais desencadeantes de sofrimento nos animais são a dor, ansiedade, medo, estresse, desconforto, injúria e trauma.

Está cientificamente comprovado que, em equinos, o confinamento e a temperatura do ar são fatores extremamente estressantes. Foram ainda expostos a uma situação de risco, com sobrecarga muscular e articular, que pode causar até fraturas. Foram submetidos ao estresse doloroso e emocional, quando através de golpes violentos eram submetidos a arrastar o carrinho com excesso de carga no meio da multidão, sem direito a refugiar-se.

O sofrimento é subjetivo, e a melhor forma de avaliá-lo é em nós mesmos. Daí a máxima “ponha-se no lugar do animal”.

NEURANEI SALETE BONFIGLIO | BIÓLOGA E PROFESSORA

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